O filósofo francês Luc Ferry falava há pouco, no programa
“Café Filosófico”, sobre a impossibilidade de uma educação bem sucedida diante
dos problemas que a escola vem tendo com os excessos de uma juventude
indisciplinada. Evidentemente, ele disse que seus alunos são modelares. Mas que
os abusos de comportamento das novas gerações são um reflexo direto dos valores
que os pais adotam.
Ferry falou desses pais que adotam um ideário conservador
quanto à educação dos filhos, mas que, vivendo na sociedade capitalista, querem
aqueles consumindo os bens que eles, às vezes, produzem para os filhos de
outros.
Se a gente aplicar esse dualismo à educação brasileira, o
que transparece é o interesse isolado, ou de grupos fechados, como diretores,
professores, donos de colégios, que colocam o objetivo primordial da escola,
que é a formação de competências através do conhecimento, como algo acidental.
E fazem da escola uma grife, no caso de classes mais bem providas. Ou apenas um
puxadinho da sua própria casa, no caso das classes populares. Lá, o aluno pode
comer seu salgadinho com refrigerante e a escola vender tais coisas, mesmo
sendo proibido por lei estadual há vários anos. Pode ficar de pé sobre uma
carteira e dançar um funk com a calça abaixada até a metade das coxas, como no
Colégio Nossa Senhora Aparecida, para ficar em um exemplo curitibano. Ou fumar
abertamente nos corredores, deixando o professor esperando na sala até que a tchurma toda termine, como acontece no
Colégio Santa Felicidade. Ou colocar notas de dinheiro sobre a carteira,
insinuando terem posses suficientes para comprar favores de autoridades, como
acontece na Escola Ângelo Trevisan. Tudo isso regado a hinos e tendo como fundo
bandeiras e brasões. E muitas reuniões de pais, que querem apenas a nota no
boletim.
Essas atitudes são vistas como naturais por esses pais que
querem hinos e bandeiras, mas abominam o conhecimento científico. Se este
impedir que se chegue à nota, é expulso da escola. Atitudes assim estão na
cultura que gera a indisciplina dentro da casa e a leva para a escola, como se,
de fato, esta fosse apenas um puxadinho da família. No caso das escolas ditas
pobres, como o Colégio Nossa Senhora Aparecida, a atitude de indisciplina é
vista como extensão das casas, e uma voz desencantada dita a regra: “Eles vêm
aqui apenas para comer. Suas famílias são todas sem estrutura.” No caso das
escolas mais abastadas, há a patricinha que viu na frente da loja a faixa “Roupas
junina” e que vai confiar na concordância da loja, e não na da lógica, e é para
essa clientela que a indústria desenvolveu o refrigerante com tequila. Talvez o
dinheiro que o aluno põe sobre a carteira seja para comprar isso.
Luc Perry mora em um país onde leis funcionam, pais têm um
contato maior com informações científicas. Mas, mesmo assim, ele vê a
indisciplina como problema. Talvez ele não saiba que, no Brasil, a indisciplina
esbarra com a transgressão às leis pelas escolas, pelos pais, pelos alunos, por
diretores e professores. Transgressão que, aqui, é cultural e que é usada até
por ex-ministros para justificar escândalos de corrupção. Imagine-se lá na
cabeça do estudante!
Olá, adorei a visita!!!
ResponderExcluirBom final de semana!!!
Abraços...Neno
Olá Edson.
ResponderExcluirDivulguei essa postagem que gostei muito no Portal teia,coloquei uma imagem para ela,se quiser trocar a imagem é só me mandar outra.
Até mais