No artigo de José Luiz de Paiva Bello,
que inseri neste blog em postagem anterior, é feita a seguinte indagação:
Quem se formou na área de ciências
humanas sabe resolver uma raiz quadrada? Ou melhor (ou pior!): sabe o que é uma
raiz quadrada? O que é uma equação de segundo grau? Para que serve? O que é um
pleonasmo? Uma síncrise? Uma figura de linguagem? O que é uma oração
subordinada? O que é uma conjunção? Talvez não saibamos nem mesmo o que seja
uma preposição. Se não somos professores de português sabemos escrever
corretamente? Usar corretamente a crase, o isso ou isto, usar vírgulas, exceção
é com cê cedilha ou com dois esses etc, etc e etc...
Tudo isso (ou isto?) nos foi "ensinado" na nossa formação escolar. E esquecemos... Ora, se esquecemos, será que aprendemos? Se não aprendemos, então para que serve a escola? Na minha opinião para discriminar.
Os professores dos cursos superiores, na sua maioria, adoram dizer que os estudantes não sabem escrever. Mas se os estudantes chegam ao curso superior sem saber escrever, sem saber expressar suas idéias, de quem é a responsabilidade? Dos estudantes ou dos seus ex-professores?
Tudo isso (ou isto?) nos foi "ensinado" na nossa formação escolar. E esquecemos... Ora, se esquecemos, será que aprendemos? Se não aprendemos, então para que serve a escola? Na minha opinião para discriminar.
Os professores dos cursos superiores, na sua maioria, adoram dizer que os estudantes não sabem escrever. Mas se os estudantes chegam ao curso superior sem saber escrever, sem saber expressar suas idéias, de quem é a responsabilidade? Dos estudantes ou dos seus ex-professores?
Parece
uma obviedade e o sistema educacional brasileiro tem feito do não-aprender uma
realidade que nem se pensa em mudar. Tanto que hoje alguns vestibulares já
passaram a exigir provas de algumas disciplinas, apenas daquelas que teriam
algum interesse para o curso escolhido. Confirma-se o que Bello fala acima: o
professor de ciências nem sabe o que é um ditongo e o de português nem lembra
que já ouviu falar em mitocôndria; fora da educação, os profissionais nem lembram
os conteúdos escolares, a menos que convivam com eles pela televisão ou
internet; conteúdo escolar serve para fazer prova, cartaz, pesquisa na
internet, e passar de ano. Aprender, de maneira nenhuma. Transformar aquela
informação, que Montaigne chama de “vômito de professor”, nos Ensaios, há quase cinco séculos, em
competência, ou conhecimento, é considerado um crime pedagógico. No Paraná,
oficializado através dos documentos que condenam a educação moderna feita
através de competências, de conhecimentos significativos para o aluno.
O
professor Júlio Furtado escreveu um livro chamado Aprendizagem Significativa. Certamente ele vai ser condenado pela
Secretaria de Educação do Paraná. Até porque aqui neste estado existe o
cerceamento da liberdade científica nas escolas. Furtado questiona a educação
que não ensina, que não transforma informação em conhecimento. Quando conversei
com Furtado em 2009, aqui mesmo em Curitiba, ele ficou surpreso em saber que as
escolas daqui ainda ensinavam os conteúdos como objetivos, através de exames e
da decoreba. Enviei a ele os documentos da SEED que condenavam as formas
modernas de avaliação. Mas Furtado é um daqueles pedagogos que sabem que o
fracasso da educação tem muito a ver com o que ele chama de corrupção
pedagógica, ou prostituição pedagógica, como o ouvi definir.
Furtado
deve ter passado pela Escola Estadual Ângelo Trevisan, quando esteve em Curitiba.
Lembro o organizador daquele evento em 2009 ter falado aos presentes que eles
poderiam tomar um vinho em Santa Felicidade. Se Furtado tivesse entrado naquela
escola, teria aumentado o seu livro em mais umas oitocentas páginas. Imaginar
toda uma proposta pedagógica baseada nos famosos “ídolos da tribo”, de Bacon, e
colocadas na condição de verdade, é algo tão repugnante em pleno ano de 2012,
como ter ouvido da boca de aluno da referida escola que a ditadura militar foi
a melhor época da história brasileira. Acontece, e não apenas como ídolos da
tribo, mas também como ídolos da caverna, do foro e do teatro. A caverna é
formada por alunos que acreditam que hábitos arraigados, como a avaliação
através de provas, é uma vantagem do fato de sua escola nunca ter saído da década de 70. Na verdade,
ela é uma das causas de o aluno da Escola Ângelo Trevisan não chegar a um
modelo significativo de aprendizagem. Essa mesma caverna abrange os pais dos
alunos. Eles acreditam em ídolos, mas não na verdade científica. Os filhos têm
anotado o número de páginas que leem por semana, e os pais acreditam que se
trata de um projeto de literatura, quando o desvalido aluno lê os blockboosters da indústria capitalista.
Mas, quantos desses pais leram literatura? Sabem do que se trata? Faz pensar no
caso da bibliotecária relatando que um pai ficou furioso pelo fato de o filho
ter lido Rubem Fonseca. Esse tipo de ídolo se manifesta no evidente preconceito
social que faz o aluno de tal escola acreditar que aprende ou se expressa numa
variante padrão. Essa variante, que os intelectuais brasileiros consideram como
um instrumento de dominação e de preconceito, é ali chamada de “norma culta”,
como uma forma de sugerir que esses mesmos pais, frutos do fracasso da educação
brasileira, e causa inegável do fracasso dos próprios filhos, seriam membros de
uma elite culta. E, enquanto as propostas curriculares oficiais enfatizam a
necessidade de se desmascarar esse preconceito e o ridículo de se atrelar cultura
à variante padrão, as mães que passam seus domingos assistindo a reality shows insistem na necessidade de
se fazer seus filhos acreditarem na superioridade dessa variante.
Seria
apenas ignorância, mas é também um ídolo do foro, pois essas mães conseguem
fazer da proposta curricular dessa escola um apanhado de suas crenças formadas
através da Revista Caras. Elas possuem poder para incluir na proposta
curricular aquilo que os Parâmetros
Curriculares Nacionais, escrito por pessoas como Jaqueline Peixoto Barbosa,
já condenaram de forma científica e racional. Essa submissão das propostas
pedagógicas à ignorância de quem representa o fracasso da educação brasileira é
uma recorrência. Nas escolas da periferia, o aluno não lê; na escola Ângelo
Trevisan, ele ganha prêmios por ler porcaria. Esse mesmo espírito de valorizar
porcarias leva essas mães, e seus desinformados filhos, a abraçarem um livro
didático cujo uso é proibido por núcleos de educação mais capacitados. O culto
à porcaria faz com que o aluno, que lê oitocentas páginas por mês, tenha o
nível ortográfico característico de pessoas com problemas de aprendizagem, e
não apenas com dificuldades de aprendizagem. Mesmo o português sendo uma língua
ortográfica, para ser visualizada, os alunos escrevem como se conhecessem a
língua apenas na forma oral. Leem Harry
Potter acreditando que a Inglaterra fica dentro dos Estados Unidos e que é
possível chegar lá de carro.
Esse
modelo de fracasso pedagógico oficializado resulta nos ídolos do teatro. A
escola aparece em programas de televisão que elogiam o fato de o aluno cantar
hinos, ou formar filas antes de entrar na sala. No interior do estado, é
costume nas boas escolas, as salas ficam abertas, e não se registra um único
incidente. O aluno respeita o espaço escolar, e faz da escola uma comunidade.
Postam na internet as fotos de suas festinhas de aniversário, feitas durante o
recreio. Na Escola Ângelo Trevisan, os alunos precisariam de um programa
extracurricular muito consistente para que um dia chegassem a esse nível de
integração. A diretora vai às salas e fotografa o lixo que ficou espalhado. Para
que chegassem ao nível de aprendizagem significativa dos alunos de uma escola
como a José Ferreira Diniz, em Dinizópolis, interior do estado, precisariam de
pelo menos um século. Precisariam de pais que ficassem diante de seus
programinhas de televisão e deixassem o conhecimento científico para a escola. Família
educa; escola ensina. A Escola Ângelo Trevisan inverteu a relação. A pedagoga
dá sermões; os pais elaboram o currículo.
Mas,
essa defasagem não vai incomodar esse aluno. Afinal, o modelo adotado pela
escola paranaense é feito para ele. Não lembrar nada do que se estudou na série
anterior. As medalhas são o único resíduo de cada ano de escolarização. Talvez
a escola ainda crie um sistema de avaliação baseado na quantidade de medalhas
conseguidas pelo aluno. Essa ideia ainda vai ser sugerida por algum membro de
instância colegiada, desses que assistem aos reality shows abraçados com as filhinhas, enquanto em alguma esquina
uma pessoa faz os trabalhos que a escola pediu. Esse sistema de corrupção
pedagógica, ou de prostituição escolar, como poderia afirmar Furtado, é algo
arraigado na caverna. Muito mais que a verdade científica. As pessoas que
perpetram essa tradição são mães experientes no costume de fazerem provas
coladas, trabalhos pagos, e chegaram à meia idade com o mesmo domínio dos
conteúdos escolares que os filhos de doze anos. Acreditam que o aluno lá da
cidadezinha do interior, que faz da escola uma comunidade, está numa condição
de inferioridade social ou linguística em relação ao seu filho. E esse aluno da
cidadezinha, na sua pré-adolescência, possui um referencial de conhecimentos
significativos que esses pais, já na sua meia idade, jamais chegarão a possuir.
Mesmos aqueles pais que compraram um diplomazinho em alguma faculdade feita
para o aluno fracassado e se formaram comprando trabalhos prontos.
O
que fazer, se pessoas que não passaram por uma aprendizagem significativa, e são
exemplos crassos do “nem saber de que se trata”, de que fala Bello, são
responsáveis pela manutenção das propostas pedagógicas de escolas, e fazem da corrupção
pedagógica o seu ídolo maior? Escolas como a Ângelo Trevisan criam seus fantoches,
que enganam as crianças inocentes, mas que repugnam às pessoas que estão
acordadas, ao se perceber que os adultos dali acreditam que os fantoches sejam
pessoas reais. Um escola apenas para discriminar, mais nada.